sexta-feira, 21 de novembro de 2008

Sopão de Filmes: Toucinho na Sopa!




Em novembro o cineclube SOPÃO DE FILMES se despede de 2008 com uma projeção especial do novo documentário catarinense Sistema de Animação. Trata-se de um dinâmico longa-metragem retratando o inusitado e talentoso baterista Lourival José Galliani, vulgo Toucinho Batera. O filme, que levou 5 anos para ser feito pela dupla Guilherme Ledoux e Alan Langdon, já recebeu a Menção Especial da Crítica Especializada no CATARINA Festival de Documentários e vem acumulando elogios desde seu lançamento no TAC. E para comemorar, haverá um pocket-show com Toucinho na batera! Então venha conferir o sistema do Toucinho e degustar uma boa sopa em boa compania. A sessão inicia as 20 hs em ponto. Entrada franca com doação sugerida de R$3

Leia sobre o filme logo abaixo das infos:

QUANDO: Domingo, dia 30 de Novembro, 20hs em ponto
QUANTO: Doação sugerida de R$ 3
ONDE: Espaço Cultural Pomar das Artes
Rua Antônio Carlos Ferreira, 418 - Agronômica
(início do Morro do Horácio, mesma rua do Posto Angeloni Beira Mar e da CNT)
CONTATO: sopao.de.filmes@gmail.com
(48) 9941-2714


Sistema de Animação
Direção: Guilherme Ledoux e Alan Langdon
documentário, 79 min, vídeo digital, 2008, SC

Documentário independente que retrata o músico Lourival José Galliani, vulgo “Toucinho Batera”. Captado e montado com uma beleza espontânea e crua - análoga ao modo como o próprio Toucinho toca e vive - Sistema de Animação mergulha o espectador na experiência de conhecer a genial musicalidade e filosofia do baterista. Feito sem nenhum apoio financeiro e com orçamento praticamente nulo para um longa-metragem, o filme pulsa com uma variedade de situações inusitadas e transformações pessoais do personagem, além, é claro, de boa música. Entrevistas complementares e materiais de arquivo pontuam o filme com memoráveis histórias da excêntrica e inusitada carreira do Toucinho, assim como participações de personalidades do meio musical como Nenê Batera, Alegre Corrêa, Gringo Saggiorato, Alessandro “Bebê” Kramer, Cássio Moura, Luiz Meira e Guinha Ramires. O longa-metragem tece um reflexivo retrato do filósofo e músico que os cineastas registraram durante 5 anos de filmagens: um verdadeiro artista improvisador equilibrando-se com humor entre a arte e a sobrevivência, uma complexa condição nem sempre simples (ou possível) de explicar, porém fruto tanto da situação cultural no Brasil quanto da espontânea personalidade do genial Toucinho.

Assista o teaser lançado em 2007:


Assista o trailer de divulgação do lançamento (que ocorreu em Outubro no TAC):




CRÍTICAS AO FILME

“Baterista Genial Ganha Perfil No Ritmo Certo”
por Carlos Alberto Mattos - O Globo Online – blog DOCBLOG – Agosto 2008

O estranho título não animava muito. Nem o personagem central, um veterano baterista de Florianópolis feio como a peste e conhecido como Toucinho. Mas o filme nos conquista logo de saída, quando os realizadores Guilherme Ledoux e Alan Langdon dão mostras de estar afinados tanto com a estética do doc independente quanto com a personalidade de seu protagonista.

Lourival José Galiani, o Toucinho, teve seus dias de glória nos anos 1970 e 80, quando tocou (não só bateria, como também piano e violão) com músicos de alcance nacional como Fafá de Belém, Peri Ribeiro e César Camargo Mariano. Depois se acabou nas drogas e vivia quase na miséria entre 2003 e 2005, quando a maior parte do material do filme foi captado. Não deixou, contudo, de manter ligado o seu “sistema de animação”, conceito de filosofia de bolso que traduz seu animus vivendi. Toucinho é uma espécie de maluco-beleza, só que dono de uma inteligência e uma criatividade fora do comum. Gene Krupa encontra Bukovski e o Professor Pardal. Ledoux (dentro da cena, como um surfista se equilibrando nas ondas revoltas do personagem) e Langdon (na câmera) limitam-se a dar corda para que Toucinho exponha sua lógica irreverente e sábia sobre a música, a vida e a intimidade com as baquetas. “Eu não toco bateria, eu faço a bateria andar”, explica. E a gente vê como isso acontece.

Fotografado na crueza do improviso e editado com requintes de ritmo, o filme dá exemplos inventivos de como se pode brincar à vontade com o processo de documentação sem sabotá-lo. De uma maneira ou de outra, a gente se informa, se delicia, se diverte (muito) e se surpreende com a história, a musicalidade e as peripécias intelectuais de Toucinho. O doc é doidão e focalizadíssimo ao mesmo tempo. Extrapola o contexto regional e merece visibilidade como perfil de um artista brasileiro singular.


“Sistema de Animação, Obra-prima”
por Jefferson Lima - Diário Catarinense Online – Blog CINELUZ - Junho 2008

Entre os filmes que assisti no 12º FAM, fiquei impressionado com "Sistema de Animação", do Alan Langdon e do Guilherme Ledoux. Uma obra-prima do gênero. Fui ver o documentário com um certo receio porque achava que a duração de 80 minutos era longa demais. Me enganei redondamente, a narrativa é intensa do início ao fim. O personagem de Alan e Ledoux é o baterista Toucinho. Toucinho é exibido com todas a suas fortalezas e fragilidades. "Sem concessões", como bem lembrou o fotógrafo Caio Cesar.

Não há hibridismo na narrativa. Embora haja alguns depoimentos sobre o músico, é ele, do começo ao fim, o personagem definitivo. Talvez nem pudesse ser diferente, mas é preciso dizer que ninguém rouba a cena. É Toucinho que conta e vivencia a sua própria história, interpretada com pungência, quase alegria, e com um bom humor subentendido durante todo o tempo da história. Os diretores seguiram Toucinho nos últimos três anos. Gravaram 42 horas. Um dos aspectos fundamentais do documentário foi a empatia estabelecida entre direção e interpretação.

Mas "Sistema de Animação" não é só feito dos depoimentos comoventes de Toucinho, Alan e Ledoux captaram também o essencial da vida do personagem, a sua musicalidade. Toucinho é a própria música. Faz música com a voz e é inventor nas horas de folga. "Sistema de Animação" talvez tenha um ponto nebuloso, o título. É demasiadamente subjetivo, mas faz parte de uma brincadeira do músico, que pode ser interpretado com um sinal de que a vida é uma espécie de sistema de animação, que funciona.

Um dos pontos altíssimos do filme, ocorre quando Toucinho está em seu Opala com o músico Alegre. Os dois estão sentados no banco dianteiro. No banco traseiro, a câmera acompanha tudo. Em determinado momento, a caixa de câmbio trava. Toucinho desce do carro para consertar o problema. No lado de fora, levanta o capô. A câmera poderia ter acompanhado o músico, mas, por uma escolha feliz, permanece no mesmo lugar. A cena mistura ficção e realidade sob uma luz contida e granulada.

O cena ocorre em silêncio. O momento é de espera. Enquanto Toucinho investiga o problema e movimenta a caixa de câmbio do motor, no interior do carro, a alavanca sob o volante também movimenta-se, provocadapela ação do músico que tenta destravar o sistema. A cena transporta para um outro filme e talvez esteja aí o verdadeiro sistema de animação do personagem, um sinal de que a vida precisa ser animada diariamente, muitas vezes com força e com impulso, como quem destrava a marcha para seguir em frente.


Assista uma entrevista bem humorada com os diretores, conduzida pelo marquinhos Espindola: